Os Otomanos conquistaram o Egito no início de 1500 e, com isso, a forma de preparar o adorado cafezinho, assim como outros hábitos, começaram a fazer parte da cultura e do dia-a-dia das famílias egípcias.

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Além do Império Otomano e dos costumes turcos, os místicos Sufis do Iêmen também influenciaram a cultura do café no Egito. Para eles, o café era utilizado em preces, como uma forma de se conectar com Deus, e para desintoxicação. Um exemplo de sua influência é a quantidade de casas de café na cidade do Cairo que surgiram em torno da universidade islâmica de Azhar.

A forma tradicional e utilizada até os dias de hoje para se pedir um café, tem relação com a quantidade de açúcar que você prefere, já que água açucarada é utilizada na sua preparação.

O preparo mais popular é o “Mazbootah”, que significa “Correto” e seria com uma proporção média de açúcar e que, automaticamente, eles consideram a forma mais “Correta”; “Ziadah” com açúcar adicional; e “Areehah” com pouco açúcar, ou seja, menos que na forma considerada correta, a “Mazbootah”.

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Existe ainda a quarta opção “Saddah”, que não leva açúcar nenhum. Esta forma de preparo é utilizada na grande maioria das vezes em situações tristes, como funerais.

No Egito, funerais não são eventos celebrativos e todo o ambiente deve trazer uma atmosfera de seriedade, incluindo o café. Nestes eventos, inclusive, não se utiliza nenhuma especiaria na preparação, algo comum no dia-a-dia da cultura egípcia, como canela, cardamomo, cravo, noz moscada, entre outras.

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As casas de café no Egito

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As casas de café continuam a ser uma instituição fundamental da sociedade para a vida social e política no Egito, assim como em muitos países pelo mundo. Em todas as cidades do Egito, você ainda tem a antiga tradição de casas de café para homens. Até hoje, as casas são muito frequentadas e é comum ver os homens jogando gamão ou xadrez, fumando um “shisha”, conversando com amigos e, claro, tomando um cafezinho.

No Cairo, as casas de café e seu uso tiveram tentativas de banimento por parte das autoridades religiosas, pois os Sheiks discutiam se os efeitos do café eram semelhantes aos do álcool e que as cafeterias tinham algo parecido com as “casas de vinho”, proibidas pelo Islã.

As casas de café eram novos espaços onde os homens se reuniam diariamente e, como se tornaram um foco para a vida intelectual, podiam ser vistas como rivais implícitas das mesquitas, sendo substituídas como local de encontro. No entanto, todas as tentativas de proibição do café falharam com o passar dos anos.

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Machismo na cultura do café

No Egito, quase todos os homens possuem o seu “Ahwa”, sua casa de café tradicional, que sempre frequentam.

O mesmo não acontece com as mulheres, pois muitas, não são autorizadas a sair de casa e, as que saem, só o fazem acompanhadas de seus pais, namorados ou maridos. Durante o Ramadan é possível ver mulheres frequentando as casas de café, assim mesmo, apenas estão seguras se acompanhadas de homens.

Existem alguns cafés no Cairo que são mistos, conhecidos como “Borsa”, mas que não são “bem vistos” por grande parcela da população e começaram, também, a surgir cafés onde existem espaços segregados para “famílias”, “mulheres solteiras” e “homens solteiros”.

Café Riche: Recheado de História

O Café Riche, inaugurado em 1908 na 29ª Rua Talaat Harb, é um dos monumentos mais famosos do centro do Cairo.

Em diversas ocasiões da história do Egito, um lugar de encontro para intelectuais e revolucionários, o café testemunhou muitos eventos historicamente significativos ao longo do século XX, entre eles, a revolução de 1919, aonde contam que membros da resistência se encontravam no porão para organizar suas atividades e imprimir panfletos.

Depois de mudar de dono algumas vezes, só em 1962, que Abdel Malak Mikhail Salib, se tornou o primeiro nativo egípcio a possuir o café. Essa mudança de propriedade também marcou uma mudança no país, já que os egípcios estavam começando a recuperar a identidade econômica.

O nobel de literatura de 1988, Naguib Mahfouz era um grande frequentador do café e, em diversos de seus romances ele é mencionado. Conta-se que o café era fechado às sextas-feiras para que Mahfouz pudesse realizar reuniões.

O Café Riche se manteve fechado por quase uma década, em 1990, por conta de uma ação judicial contra o café feita pelo governo, devido à uma passagem pública que ele ocupava. O terremoto de 1992 fez com que seu prédio precisasse ser reconstruído e, com chegada da era digital, dos shoppings e outros tipos de lanchonetes com internet fizeram com que ele não fosse mais o ponto de encontro das novas gerações. Contudo, durante a revolução de 2011, o café serviu de refúgio para muitos que protestavam na cidade. Este é um local que certamente faz parte de grandes momentos da história da cidade e vale a visita.

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